segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estresse na relação entre os Usuários e Servidores do SUS em uma Unidade Sanitária do município de Cachoeira do Sul - RS

    Para dar início as publicações do blog, gostaria de compartilhar com vocês as conclusões a que cheguei, durante meu trabalho de conclusão de curso, que buscou encontrar as causas do estresse entre os usuários e os servidores do SUS.
   No decorrer deste estudo foi possível constatar que o estresse estabelecido na relação entre os sujeitos da Unidade Sanitária onde os dados foram coletados, se dá principalmente devido às dificuldades no sistema de agendamento de consultas. Observou-se que a queixa principal dos usuários está relacionada ao número de fichas disponíveis, que não conseguem atender a demanda da Unidade, bem como uma única linha telefônica que em alguns horários acaba congestionando devido ao volume de pacientes que ligam ao mesmo tempo.
   Já os servidores sofrem de estresse ocupacional principalmente devido ao fato de terem que dar aos usuários, durante a maior parte do dia, retornos negativos no que se refere ao agendamento de consultas, já que o número de fichas disponíveis é limitado e dividido entre os médicos da Unidade. Além disto, somente uma consulta, em muitos casos, não resolverá os problemas dos pacientes. Faz-se necessária a distribuição de receitas para remédios controlados (que também são limitadas), encaminhamento para exames (que podem demorar dias, meses ou até mesmo anos), além de medicamentos comuns e gratuitos que deveriam estar disponíveis na farmácia do SUS e faltam.
    Como técnica para coleta de dados, formei grupos focais que possibilitaram a compreensão da burocratização do atendimento, vivida como uma experiência singular de impotência, do descrédito e da desvalia, sentidas pelos servidores, por não conseguirem, na maioria dos casos, ajudar pessoas que chegam até eles em estado de doença, pedindo-lhes ajuda e faltarem-lhes recursos para auxiliar na cura destas pessoas, devido às carências do sistema.
  Faz-se necessário que a equipe desenvolva ações individuais e coletivas, de acompanhamento e promoção da saúde na unidade, mostrando para a população que o cuidado à saúde é realizado por uma equipe multiprofissional de forma integral e que este cuidado não é centrado apenas na figura do médico.
    A pesquisa demonstrou que os usuários valorizam o atendimento médico especializado, reivindicando médicos especialistas para o atendimento da população. A US deve buscar estratégias que demonstrem para a população a capacidade que o médico da família, junto com os demais membros da equipe multiprofissional têm para desenvolver ações de cuidado em todas as fases do desenvolvimento humano.
   A Teoria das Representações Sociais deu embasamento para a análise deste trabalho pressupondo que: a exploração das representações sociais poderia permitir o contato com imagens e conteúdos que expressassem, de certa forma, as necessidades de saúde sentidas pelas pessoas. No caso, as pessoas alvos deste estudo foram usuários e servidores de uma Unidade Sanitária.
  Existem as representações que são geradas no decurso de um conflito ou controvérsia social e que não são partilhadas pela sociedade no conjunto. Estas representações controversas devem ser consideradas no contexto de uma oposição ou luta entre grupos. Nas representações sociais, o acento tônico é colocado nos processos de interação e de influência que orientam a construção e a dinâmica do pensamento social.       
   Entende-se que as práticas de saúde vão muito além de intervenções curativas, devendo ser direcionadas não só para atender, mas para prevenir a doença e promover a saúde, como bem descreveu Freitas (2005) em seu trabalho. Pensar em saúde como 'ausência de doença', onde para tal, necessita-se apenas de um médico e de remédios, não dissolverá o problema das carências da saúde pública brasileira.
    A vigência desse modelo tende a desqualificar outros saberes relacionados aos cuidados com a saúde, deixando de lado os componentes sociais do processo saúde - doença, assim como a subjetividade do usuário.

   Ressalta-se, portanto, a importância da qualificação dos servidores, para recepcionar, atender, acolher, escutar, tomar decisões, amparar, orientar e negociar, com os usuários que chegam até a Unidade Sanitária em situação de doença, trabalhando não somente as práticas curativas, mas incentivando a população a buscar alternativas de prevenção de doenças e promoção de saúde.

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